Investigando psicanaliticamente as psicoses

Vivemos hoje num período extraordinário, em que os avanços contínuos e acelerados das ciências obrigam a uma incessante reformulação dos próprios fundamentos pelos quais damos sentido a nosso estar-no-mundo. Uma das características mais marcantes de nossa época é assim a dissipação de algumas fronteiras tradicionais que costumavam demarcar, até bem recentemente, os domínios de operação de diferentes saberes e disciplinas, ainda que pertinentes a uma mesma área de atividades. A complexidade dos temas abordados na atualidade tornou indispensável a convergência e o entrecruzamento de idéias e abordagens oriundas de variados campos de investigação. É sob esta perspectiva transdisciplinar que a obra do Dr. Decio Tenenbaum adquire sua mais autêntica magnitude: aos investigadores do difícil problema da determinação da natureza das psicoses oferece um punhado de sólidas diretrizes teóricas, elaboradas a partir da conjunção da Psicanálise com elementos tomados da física dos objetos complexos, da biologia darwiniana e da etologia contemporânea, bem como instigantes sugestões clínicas, expostas com elegante clareza. Profundidade e flexibilidade: eis o que o leitor interessado encontrará neste convite ao pensar que é também um desafio, e sua efetividade logo o empolgará. Com efeito, como recusar o que é indispensável?
Luiz Alberto Oliveira
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas

 

 

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Schreber e van Gogh. Um estudo psicanalítico sobre a opressão interior
                                                                                                                                                                                 

O estudo aqui apresentado corresponde à segunda etapa da pesquisa psicanalítica que venho desenvolvendo desde o início dos anos 1990 e cuja primeira etapa foi apresentada no livro anterior, onde foi abordado o fenômeno psicodinâmico característico das psicoses funcionais e examinou-se a desorganização do ego característica das psicoses esquizofreniformes.

A etapa atual é dedicada ao exame das psicoses depressivas, cujo fenômeno psicodinâmico característico é a desorganização do ego por sobreposição do superego. A opressão interior é uma das expressões mais comuns da sobreposição do ego pelo superego.

O estudo sobre a opressao interior situa-se na área de confluência entre as Ciências da Saúde (Psiquiatria) e as Ciências Humanas (Psicologia, Psicanálise e Antropologia). Como no livro anterior, a teoria psicanalítica relacionada com o tema é revisada à luz dos conhecimentos contemporâneos advindos da Física dos elementos complexos, da Antropologia, da Biologia e da Etologia.

São examinadas duas formas de expressão da opressão interior: o fracasso diante do êxito e a atração pela miséria. Para tanto são reapresentados, agora de forma completa, o adoecimento de dois pacientes famosos: Daniel Paul Schreber e Vincent van Gogh, cujos quadros clínicos foram parcialmente examinados anteriormente por Sigmund Freud e Karl Jaspers e por ambos situados dentro do espectro esquizofrênico.

Exatamente por isso, a reapresentação casos clínicos se presta à discussão mais geral sobre a forma de adoecer psicótica englobar tipos diferentes de doenças ou corresponder a diferentes expressões clínicas do mesmo tipo de adoecimento e fornece uma nova compreensão sobre o conflito natureza x cultura.

 

 


A psicanálise da pessoa. Uma perspectiva antropológica e psicodinâmica dos processos de constituição de uma pessoa e de adoecimento fruto da própria existência
                                                                                                                                                                                 

Este livro corresponde à quarta etapa da pesquisa antropológica-psicodinâmica sobre as formas de expressão so adoecimento, mental e psicossomático. Essa etapa foi dedicada à investigação da cultura humana, especialmente do seu papel nos processos de constituição de cada pessoa e de adoecimento, mental e psicossomático, fruto da própria existência, trazendo novos elementos à atualização das concepções psicanalíticas sobre o ser humano (a antropologia psicanalítica), sobre a mente (o aparelho mental individual) e seu funcionamento (a dinâmica entre as instâncias mentais).

Por vivermos um momento confuso sobre o que é biológico, o que é psicológico, o que é social e o que é cultural, a primeira parte do livro é dedicada ao exame da relação entre biologia, subjetividade e cultura. Nela são apresentados os desdobramentos biológicos produzidos pela seleção natural que culminaram no surgimento de uma espécie de mamífero social permanentemente bípede e falante, que possibilitou o surgimento da comunicação humana, da consciência humana e da cultura em nosso planeta, definida como o sistema virtual, simbólico, normativo e valorativo, com elementos universais e regionais que envolve toda a humanidade e que modela e modula todas as experiências humanas, inclusive o processo de constituição de cada pessoa, suas formas de expressão, de realização e de adoecimento.

A segunda parte do livro apresenta como a mente humana e o padrão de funcionamento mental de cada pessoa se constituem a partir do encontro entre a subjetividade constitucional, portanto biológica, e a cultura nos diferentes ciclos psicodinâmicos do existir humano, por mim nomeados conforme o elemento psicológico fundamental de cada um. A mente surge no processo de constituição de cada pessoa como o componente personalizado desse sistema simbólico, normativo e valorativo.

A terceira parte do livro se inicia com o exame das relações entre trauma, estresse e os sistemas defensivos, orgânicos e psicológicos, da unidade psicossomática. Em seguida, se examina o impacto que as vivências potencialmente patogênicas (as ameaças ao ego e ao eu, as sobrecargas do ego e do eu, as incompetências do ego e do eu, as lesões do ego e do eu e as desorganizações do ego) costumam produzir nos sistemas defensivos da unidade psicossomática e as respectivas repercussões nos padrões defensivos e de processamento das experiências vividas,  que são vistos nas formas de expressão do adoecimento, mental e psicossomático, fruto da própria existência de cada pessoa. Finalmente, as diferentes formas de expressão do adoecimento como fruto da própria existência são apresentadas não como doenças, mentais ou psicossomáticas, mas sim como soluções mórbidas para infelicidades agudas e crônicas, sobrecargas mentais agudas e crônicas e lesões narcísicas procedentes da vida da pessoa e que eclodem em determinadas circunstâncias existenciais críticas para a pessoa e relacionadas com incompetências psicológicas ou com deformações do caráter da pessoa decorrentes de falhas, faltas e lesões vividas nos ciclos psicodinâmicos do existir, especialmente no diádico e no edípico porque é neles que são construídas as bases da segurança em ser e em estar no mundo necessárias para se processar adequadamente as experiências vividas e se alcançar as realizações pessoais. No final, é apresentada uma nosologia específica para o trabalho psicoterápico.